Tio Wiggily e a Gata Rica

Resumo

Esta história narra a jornada de uma gata rica, que apesar de possuir muitas posses, incluindo um automóvel e empregados, se sente insatisfeita com sua vida monótona e sem aventuras. Em busca de uma emoção, ela decide sair para passear na floresta, onde acaba enfrentando um inesperado incidente com o automóvel, forçando-a a buscar ajuda. Durante esse contratempo, ela encontra o Tio Wiggily, um velho coelho cavalheiro, e dois cachorrinhos que a fazem subir em uma árvore. Esta experiência nasce como uma verdadeira aventura para a gata, que decide ajudar outros em dificuldades, doando seu carro para uma família de gatos pobres. Finalmente, a gata rica decide viver nos bosques, constatando que ajudar os outros é o que lhe traz verdadeira felicidade, o que leva a uma transformação significativa em sua vida, onde ela opta por viver de maneira mais simples, mas mais gratificante.

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Era uma vez uma gata muito rica, mas, apesar de tudo o que tinha, ela não era feliz. Ela possuía um automóvel e mantinha uma pequena ratinha como empregada para servi-la. Um velho rato cavalheiro fazia todo o trabalho pesado na casa, como tirar o lixo e cortar a grama.

— Ai de mim! — suspirou a rica gata certa manhã, depois de lamber um pouco de creme espesso e pesado, que lhe era deixado na porta todos os dias. — Ai de mim! Estou tão cansada!

— Cansada de quê? — guinchou a pequena ratinha empregada, enquanto trazia um guardanapo de papel para que a rica gata limpasse o creme dos seus bigodes. Apesar de ser muito rica, a gata tinha bigodes, e se orgulhava muito deles.

— Ah, estou cansada de ficar sentada sem fazer nada! — ronronou a gata rica.

— Então por que não vai dar uma volta no seu carro? — perguntou a pobre ratinha empregada.

— Estou cansada disso também — respondeu a gata. — É sempre a mesma coisa, todos os dias! Vestir-se e sair. Voltar e vestir-se para comer! Vestir-se para sair de novo! Voltar e tirar a roupa para ir dormir, e de manhã levantar e vestir-se para fazer tudo de novo! Eu… eu gostaria de ter uma aventura! — miou a gata rica.

— Oh, misericórdia! Uma aventura! — guinchou a ratinha. — Jamais!

— Sim — continuou a gata —, uma aventura de verdade, uma aventura emocionante. Vi um cachorro pobre outro dia — pelo menos ele costumava ser pobre, e agora está longe de ser rico. Mas ele parecia tão bem, tão cheio de vida, com dentes tão fortes e brancos! Ouvi ele contando a outro cachorro que teve uma aventura maravilhosa na floresta com um velho coelho cavalheiro chamado Tio Wiggily. Fiquei com inveja daquele cachorro pobre!

— Ah, e você, sendo tão rica! — murmurou a ratinha empregada.

— Não me importo! — miou a gata rica. — Eu quase gostaria de ser pobre, se isso me garantisse uma aventura. Venha, vou dar uma volta no carro. Será melhor do que ficar à toa pela casa.

Assim, a gata rica mandou trazer seu automóvel, com o rato cavalheiro como motorista e a pequena ratinha para se sentar ao seu lado no banco acolchoado.

— Para onde devo dirigir, Dona Gata? — perguntou o velho rato, que era o motorista.

— Ah, para qualquer lugar, para a floresta, para os campos, para qualquer lugar onde eu possa viver uma aventura. Não me importa! — miou a gata rica.

O rato levou o automóvel pelo vilarejo e saiu em direção à floresta. No começo, as estradas eram muito boas, mas logo ficaram esburacadas, e a gata rica e a ratinha foram sacudidas de um lado para o outro.

— Quer que eu continue? — perguntou o rato.

— Ah, sim — respondeu a gata. — Isso sacode meu fígado, e parece que estou ficando mais faminta. Continue, talvez eu encontre uma aventura.

O carro continuou sacolejando quando, de repente, houve um estrondo.

— Oh! — gritou a ratinha.

— O que aconteceu? — perguntou a gata rica, olhando através de seus óculos elegantes.

— Tivemos um acidente — respondeu o rato cavalheiro. — O carro quebrou, e terei que buscar ajuda.

— Vamos junto também! — guinchou a ratinha. — Não queremos ficar aqui sozinhas na floresta.

— Você pode não querer — disse a gata, com um sorriso. — Mas eu vou ficar. Vá com o Sr. Rato, Srta. Ratinha, e busquem ajuda. Eu ficarei aqui!

Então, a gata rica ficou sozinha, sentada no carro, com uma das rodas quebradas, enquanto o rato cavalheiro e a ratinha foram procurar uma oficina para buscar ajuda.

— Talvez isso seja o começo de uma aventura — pensou a gata.

Um momento depois, ela ouviu um farfalhar nas moitas, e surgiu um cachorro estranho. A gata rica conhecia alguns cachorros ricos que usavam coleiras de prata e ouro, e que eram seus amigos. Ela não tinha medo deles. Mas este era um cachorro sem coleira, embora vestisse roupas. E, ao olhar uma segunda vez, a gata percebeu que era um cachorro jovem, um filhote, e não um cachorro adulto.

— Au! Au! — latiu o cachorro jovem. — Você é uma gata estranha! O que está fazendo nesses bosques? Ei, Jackie! — uivou o cachorro. — Venha me ajudar a correr atrás dessa gata estranha e fazê-la subir numa árvore!

— Tudo bem, Peetie! Estou com você! — respondeu uma voz, e das moitas saiu outro cachorro jovem. Os dois correram em direção à gata rica.

Agora, talvez a gata não tivesse medo de um cachorro jovem, mas quando dois deles saltaram em sua direção, isso foi suficiente para assustar qualquer gato! Não acha?

— Miaaaauuu! Miau! Miiii! — gritou a gata, e antes que se desse conta, já estava subindo numa árvore. Ela escalou rapidamente, suas garras arrancando pedaços de casca, até se empoleirar num galho, bem acima de seu carro e dos cachorros que latiam lá embaixo.

— Minha nossa, que situação, e pensar que sou uma gata rica sendo perseguida por dois cachorrinhos pobres! O que meus amigos irão pensar?

Então ela olhou para baixo, viu os cachorrinhos e disse:

— Vão embora, se fizerem o favor, cachorrinhos!

— Não! — eles latiram. — Não!

— Vá avisá-lo — disse um filhote ao outro. — Diga a ele que encontramos uma gata estranha em seus bosques. Eu ficarei aqui vigiando, para que ela não desça até você voltar com ele.

— Quem será que eles vão trazer? — pensou a gata rica no alto da árvore. Ela não pôde deixar de rir um pouco, imaginando como deveria estar ridícula. “A ratinha e o rato motorista vão ficar surpresos quando voltarem e me verem aqui”, pensou a gata.

Um dos cachorrinhos correu para longe, enquanto o outro ficou de guarda no pé da árvore.

— Posso descer? — perguntou a gata rica.

— De jeito nenhum! — rosnou o cachorro, embora sem ser grosseiro. — Você tem que ficar aí em cima!

— Puxa vida! — pensou a gata rica. — Esta aventura foi bem inesperada!

De repente, ela viu o cachorrinho saltar. Ao mesmo tempo, houve um farfalhar nas moitas, e o outro filhote apareceu, trazendo um velho coelho cavalheiro, que usava um chapéu de seda alto, óculos em seu nariz cor-de-rosa e brilhante, e caminhava com uma bengala listrada de vermelho, branco e azul.

— Aqui está ela, Tio Wiggily! — latiu um dos cachorrinhos. — Vimos essa gata nos seus bosques e a fizemos subir numa árvore, até que você pudesse dar uma olhada. Talvez seja o Lobo Woozie ou a Raposa Fuzzy disfarçados de gata.

— Não sou nada disso — disse a gata rica de cima da árvore. — Sou a Sra. Gata Rica, e meu carro quebrou. Quando minha ratinha e o rato cavalheiro voltarem, eles terão a certeza de que eu nunca machuco coelhos. Mas o senhor é o Tio Wiggily Orelhas Longas?

— Sim — respondeu o coelho. — E eu sei quem você é, Sra. Gata. Ouvi falar de você através do cachorro pobre. Sinto muito que Jackie e Peetie tenham te feito subir na árvore. Eles não queriam fazer mal.

— Tenho certeza de que não — miou a gata educadamente.

— Mas eles estão sempre alertas para garantir que nada aconteça comigo — continuou o Tio Wiggily. — Eu a ajudaria a descer, mas não posso subir numa árvore.

— Oh, eu consigo descer facilmente — disse a gata rica, e desceu, embora suas roupas elegantes estivessem um pouco amassadas. Mas ela tinha bastante dinheiro para comprar mais roupas. Não se preocupou com isso.

— Sinta-se em casa nesses bosques — disse o Tio Wiggily gentilmente. — Sinto muito por todo esse problema. Agora preciso ir. Espero que consertem seu carro. Vamos, Jackie e Peetie, se vocês querem me ajudar.

— Para onde você vai? — perguntou a gata rica.

— Vou ajudar uma família de gatos pobres — disse o Tio Wiggily. — O gato da casa está desempregado há muito tempo, sua esposa está doente e eles têm vários gatinhos. Eu estava a caminho da casa deles quando Jackie veio me avisar que você estava numa árvore.

— Bem, já desci da árvore agora — riu a gata rica. — E você me permitiria ajudar essa família pobre? Tenho muito dinheiro, veja — e ela mostrou uma bolsa cheia de folhas douradas, que os animais usam como dinheiro. — Posso comprar comida para eles, e se o Sr. Gato precisar de trabalho, deixe que ele use o meu carro, depois que consertarem, como transporte.

— O quê! — exclamou o Tio Wiggily. — Você não vai mais usar esse carro maravilhoso? Só precisa de uma roda nova.

— Dê-o para a família pobre — foi a resposta. — Nunca mais vou andar nele. Sinto-me muito melhor desde que vim para os bosques  e subi numa árvore. Vou viver aqui pelo resto da minha vida. Vou comprar uma casinha de tronco oco perto de você, Tio Wiggily. Agora sei que vou ser muito feliz.

— Bem, você vai fazer a família de gatos pobre muito feliz, com certeza — disse o Sr. Orelhas Longas.

— E fazer os outros felizes é o que nos faz felizes. — miou a gata rica.

Ela foi com o Tio Wiggily, Jackie e Peetie até a casa da família de gatos, e quando o pobre Sr. Gato ouviu que iria ganhar o automóvel para trabalhar, ele ficou tão feliz que quase deu cambalhotas. Sua esposa e os filhotes também ficaram muito contentes.

Quando o rato cavalheiro e a ratinha voltaram com outro carro para levar a gata rica para casa, ela disse:

— Vou ficar aqui com o Tio Wiggily. De agora em diante, vou viver nos bosques e ser feliz e pobre.

— Oh, meu Deus! — guinchou a ratinha. — Que coisa!

— Nunca ouvi falar de algo assim — disse o rato motorista. — Você faria muito melhor se voltasse para sua casa e vivesse como antes.

Mas a gata rica não mudou de ideia e construiu uma casinha perto da de Tio Wiggily, e viveu feliz para sempre.