Como Eles Fugiram

Resumo

Tommy e Billy, dois meninos curiosos, decidem fugir para viver uma aventura como caçadores na floresta. Mal preparados, enfrentam fome, cansaço e pequenos perigos, como um animal preso em armadilha e uma noite solitária na montanha. Billy acaba pendurado numa árvore e Tommy cai num buraco de urso. Após buscas angustiadas, são encontrados e resgatados durante a madrugada. A aventura termina com lições de prudência, amadurecimento e respeito pela vida animal.

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Dois garotinhos estavam sentados na cerca, fazendo flechas, num belo dia. Um dos meninos disse ao outro:

— Vamos fazer algo divertido.

— Tá bem. O que vamos fazer?

— Fugir pro mato e ser caçadores.

— O que podemos caçar?

— Ursos e raposas.

— Meu pai diz que não tem nada disso por aqui.

— Bom, podemos atirar em esquilos e armar laços pra marmotas.

— Não temos armas nem armadilhas.

— Temos nossos arcos, e achei uma armadilha velha atrás do celeiro.

— O que vamos comer?

— Aqui tá nosso almoço; e quando acabar, podemos assar os esquilos e cozinhar peixes num espeto. Eu sei como.

— Onde vamos arrumar fogo?

— Tenho fósforos no bolso.

— Eu tenho um monte de coisas que podemos usar. Vamos ver.

E, como se finalmente satisfeito, o cauteloso Billy mostrou seus tesouros, enquanto o ousado Tommy fez o mesmo.

Além das duas facas, havia cordas, pregos, fósforos, um pedaço de massa, anzóis e dois lenços bem sujos.

— Isso é um baita equipamento pra caçadores; e com a cesta de almoço que minha mãe deu, podemos nos virar direitinho por dois ou três dias — disse Tommy, ansioso pra partir.

— Onde vamos dormir? — perguntou Billy, que gostava de estar confortável dia e noite.

— Ora, nas árvores ou em camas de folhas, como os caras dos nossos livros. Se tá com medo, fica em casa; eu vou me divertir. — E Tommy enfiou as coisas de volta nos bolsos, como se não houvesse tempo a perder.

— Não tô com medo. Vamos!

Ninguém os observava, e eles poderiam ter saído calmamente; mas ambos queriam a parte de “fugir”, então dispararam estrada abaixo, pularam um muro e correram pro mato como se uma tribo inteira de javalis os perseguisse.

— Você sabe o caminho? — ofegou Billy, quando finalmente pararam pra respirar.

— Sim, o caminho sobe a montanha; mas é melhor não seguirmos por ele, senão alguém pode nos ver e nos levar de volta. Vamos ser caçadores de verdade e ter aventuras; temos que nos perder e achar o caminho pelo sol e as estrelas — respondeu Tommy, que lera tantos livros de aventura que sua cabecinha era uma mistura de Rangers do Texas, Exploradores Africanos e Buffalo Bills, e ele ardia para superar todos eles.

— O que nossas mães vão dizer se nos perdermos de verdade? — perguntou Billy, sempre com uma dúvida na ponta da língua.

— A minha não vai se importar. Ela me deixa fazer o que quero.

Isso era verdade; a pobre mãe de Tommy, cansada de tentar domar o garoto agitado, já se acostumara a vê-lo sair de suas encrencas sem muito dano.

— A minha vai ficar apavorada; ela sempre acha que vou me machucar, então eu tomo cuidado. Mas acho que vou arriscar, pra ter o que contar quando voltarmos pra casa — disse Billy, seguindo o Capitão Tommy, que sempre tomava a frente.

Esses meninos de onze anos estavam passando um tempo com suas mães numa fazenda nas montanhas; e, cansados dos ursos mansos, do grande celeiro, do riacho de trutas, dos trinta potros no pasto e da companhia das poucas meninas e garotos menores no hotel próximo, os dois queriam se soltar e “viver como selvagens no mato”, como os caçadores de suas histórias favoritas.

Lá foram eles, cada vez mais fundo na grande floresta que cobria a encosta da montanha. Um lugar agradável naquele dia de agosto; era fresco e verde, com muitos riachos respingando sobre as rochas ou formando poças marrons sob as samambaias. Esquilos tagarelavam e corriam pelos pinheiros altos; de vez em quando, um coelho cinza sumia entre os arbustos, ou um pássaro estranho voava por ali. Aqui e ali, amoras cresciam em clareiras, arbustos de sassafrás eram abundantes, e a casca de bétula preta estava pronta para ser mascada.

— Não acha isso legal? — perguntou Tommy, parando enfim numa pequena clareira onde um riacho barulhento descia a encosta, e os pinheiros cantavam acima.

— Sim; mas tô com fome. Vamos descansar e comer nosso almoço — disse Billy, sentando-se num tapete de musgo.

— Você sempre quer comer e descansar — respondeu o robusto Tommy, que gostava de estar sempre em movimento.

Ele pegou a cesta de pesca, pendurada no ombro por uma alça, e a abriu com cuidado; a mãe havia preparado um belo almoço com pão e manteiga, bolo, pêssegos, uma garrafa de leite e dois picles grandes escondidos para agradar os meninos.

O rosto de Tommy ficou sério ao olhar dentro, pois só viu uma caixa de minhocas para isca e uma jaqueta velha.

— Pegamos a cesta errada! Essa é do meu pai, e ele saiu com nosso almoço.

— Por que não olhou? Você sempre tá com pressa. O que vamos fazer agora sem nada pra comer? — reclamou Billy, para quem perder o almoço era um golpe terrível.

— Vamos ter que pescar uns peixes e comer amoras. O que você vai fazer? — disse Tommy.

— Vou pescar; tô tão cansado que não vou ficar catando amoras. Também não gosto delas. — E Billy começou a preparar sua linha e iscar o anzol.

— Sorte que temos as minhocas; você pode comê-las se não aguentar esperar pelos peixes — disse Tommy, esvaziando a cesta e empilhando suas poucas coisas. — Tem uma poça calma ali embaixo, vai pescar lá. Eu pego as amoras e depois te mostro como preparar o jantar no mato. Aqui é nosso acampamento.

Tommy correu para um lugar onde vira amoras, enquanto Billy achou um canto confortável perto da poça e ficou olhando a água com cara feia, tão zangado que era um milagre algum peixe morder sua isca. Mas as minhocas gordas atraíram alguns pequenos, e ele se animou com a perspectiva de comida. Tommy assobiava enquanto colhia, e em meia hora voltou com dois quartos de amoras e um monte de gravetos secos para o fogo.

— Vamos ter um jantar legal, afinal — disse, enquanto as chamas crepitavam e as folhas secas exalavam um cheiro agradável.

— Peguei quatro, mas não sei como vamos cozinhá-los; não temos frigideira — resmungou Billy, jogando os quatro peixinhos, que ele meio limpou.

— Assar nas brasas ou tostar num graveto bifurcado. Vou te mostrar como — disse o alegre Tommy.

Enquanto trabalhava, Billy comia amoras e suspirava por pão com manteiga. Após muito esforço, dois peixes ficaram meio cozidos e foram devorados pelos meninos famintos. Mas eram bem diferentes dos peixes dourados que suas mães faziam; apesar dos esforços de Tommy, eles caíam nas cinzas, e não havia sal. Quando o último foi tostado, os jovens caçadores estavam tão famintos que comeriam qualquer coisa, e não sobrou uma amora.

— Coloquei a armadilha ali, vi um buraco entre as trepadeiras, e não ficarei surpreso se pegarmos um coelho ou algo assim — disse Tommy, depois de polir o último osso. — Vai pegar mais peixes, e eu vejo se capturei algum bicho voltando pro jantar.

Tommy saiu correndo, e Billy voltou lentamente ao riacho, desejando com todas as forças estar em casa comendo milho doce e torta de amoras.

Os peixes aparentemente foram jantar, pois Billy não conseguiu uma mordida sequer; e estava quase dormindo quando um grito alto o assustou tanto que ele caiu no riacho até os joelhos.

— Peguei ele! Vem ver! É um grandão! — berrou Tommy, das moitas de amoras, a certa distância.

Billy saiu da água e correu o mais rápido que suas botas molhadas permitiam, para ver qual era o prêmio. Encontrou Tommy dançando loucamente ao redor de um animal cinza e gordo, que lutava para tirar as patas da armadilha, fazendo um barulho estranho enquanto se debatia.

— O que é isso? — perguntou Billy, escondendo-se atrás de uma árvore o mais rápido possível; a coisa parecia feroz, e ele era muito tímido.

— Um guaxinim, acho, ou uma marmota grande. A pele dele não daria um boné legal? Aposto que os outros garotos vão querer ter vindo com a gente — disse Tommy, sem a menor ideia do que fazer com o bicho.

— Ele morde. Melhor fugirmos e esperar até ele morrer — disse Billy.

— Queria que ele tivesse prendido a cabeça, aí eu poderia carregá-lo; mas ele parece bravo, então vamos deixá-lo um pouco e pegá-lo na volta. Mas é uma beleza. — E Tommy olhou orgulhoso para o monte de pelos cinza se debatendo na areia.

— Podemos comer ele? — perguntou Billy, faminto, pronto até para um crocodilo frito se pudesse.

— Se for guaxinim, sim; mas não sei sobre marmotas. Os caras dos meus livros não parecem ter pegado nenhuma. Ele tá bem gordo; podemos tentar quando ele morrer — disse Tommy, que se importava mais com a pele para exibir do que com a melhor comida do mundo.

O som de um tiro ecoando pelo bosque deu a Tommy uma boa ideia:

— Vamos achar o cara e pedir pra ele atirar nesse bicho; aí não precisamos esperar, podemos tirar a pele agora e comê-lo também.

Voltaram ao acampamento, pegaram suas coisas, e os dois caçadores correram na direção do som, felizes por saber que havia alguém por perto, pois algumas horas de vida no mato os deixaram um pouco com saudades de casa.

Correram, escalaram, escutaram e gritaram; mas só depois de subir bastante a montanha encontraram o homem, descansando numa cabana velha deixada pelos lenhadores. Os restos de seu jantar estavam espalhados no chão, e ele fumava, lendo um jornal, enquanto seu cachorro cochilava aos seus pés, perto de uma bolsa de caça cheia.

Ele pareceu surpreso quando dois meninos sujos e molhados apareceram de repente — um sorrindo animado, o outro parecendo triste e assustado enquanto o cachorro rosnava e os encarava como se fossem dois coelhos.

— Opa! — disse o homem.

— Opa! — respondeu Tommy.

— Quem são vocês? — perguntou o homem.

— Caçadores — disse Tommy.

— Tiveram sorte? — E o homem riu.

— Demais. Pegamos um guaxinim na nossa armadilha, e queremos que venha atirar nele — respondeu Tommy, orgulhoso.

— Tem certeza? — disse o homem, parecendo interessado, além de divertido.

— Não; mas acho que sim.

— Como ele é?

Tommy descreveu, e ficou desapontado quando o homem se deitou novamente, dizendo, com outra risada:

— É uma marmota; não presta.

— Mas quero a pele.

— Então não atire, deixe ele morrer; é melhor pra pele — disse o homem, que estava cansado e não queria parar por uma caça tão pobre.

Durante todo esse tempo, Billy olhava fixamente para os sanduíches, pão e queijo no chão, cheirando-os, enquanto o cachorro o cheirava.

— Quer comida? — perguntou o homem, vendo o olhar faminto.

— Quero! Deixamos nosso almoço, e só comi dois peixinhos e umas amoras velhas desde o café da manhã — respondeu Billy, com lágrimas nos olhos e a mão na barriga.

— Coma então; terminei e não quero essa comida. — E o homem pegou o jornal, como se feliz por ser deixado em paz.

Sorte que o cachorro já estava alimentado, pois em dez minutos não sobrou nada além do guardanapo; e os meninos cataram as migalhas, bem revigorados, mas querendo mais.

— Melhor voltarem pra casa, rapazes; fica bem frio na montanha depois do pôr do sol, e vocês estão bem longe da cidade — disse o homem, que os observava por cima do jornal e via, apesar da sujeira e rasgos, que não eram filhos de fazendeiros.

— Não moramos na cidade; estamos no vale. Sem pressa; conhecemos o caminho, e queremos nos divertir antes. Parece que você se deu bem — respondeu Tommy, olhando com inveja da espingarda para a bolsa de caça, de onde pendiam uma cabeça de coelho e um rabo de esquilo.

— Razoável; mas quero atirar num urso. Dizem que tem um por aqui, e estou atrás dele; ele mata ovelhas e pode machucar as crianças da região — disse o homem, carregando a espingarda; ele queria se livrar dos meninos e mandá-los pra casa.

Billy ficou alarmado; mas o rosto de Tommy brilhou de alegria enquanto dizia, ansioso:

— Espero que o pegue. Eu prefiro atirar num urso do que em qualquer outro animal, exceto um leão. Não temos leões aqui, e ursos são raros.

Era verdade, e o homem sabia. Ele não esperava nem queria encontrar um urso, mas achou que a ideia faria os garotos voltarem pra casa na hora. Vendo que um deles não se assustava, riu e disse, com um aceno para Tommy:

— Eu te levaria comigo, mas acho que seu amigo não tá a fim.

— Ei, vamos lá! Vai ser divertido, Billy! Sei que você vai gostar. Uma espingarda de verdade, um cachorro e um caçador! Vem! — gritou Tommy, louco para ir.

— Não vou! Tô cansado e vou pra casa. Não acho graça em caçar, e queria não ter vindo — resmungou Billy.

— Não posso parar. Tchau. Voltem pra casa, e um dia eu venho e te levo pra caçar comigo — disse o homem, saindo com a querida espingarda, o cachorro e a bolsa.

— Vamos ver como tá o velho Chuck — disse Tommy, bem-humorado, quando o homem sumiu.

— Só depois que eu descansar. Posso tirar um cochilo nessa pilha de feno; depois vamos pra casa antes que escureça — respondeu o preguiçoso Billy, ajeitando-se na cama rústica dos lenhadores.

— Beleza — disse Tommy — mas vou explorar. Acho que vi uns bichos ali.

Ele tentou seu arco e atirou suas flechas várias vezes em vão, pois os bichos ágeis não lhe davam chance. Teve mais sorte com um pássaro marrom que estava num arbusto e foi atingido em cheio no peito com a flecha mais afiada. O pobre bicho agitou as asas e caiu, seu sangue molhando as folhas verdes enquanto morria na grama. Tommy ficou muito satisfeito no início; mas, ao ver o olho brilhante do pássaro se apagar e suas asas marrons pararem de bater, sentiu pena por acabar com aquela vidinha feliz de forma tão cruel, e vergonha por sua diversão inconsequente causar tanto sofrimento.

— Nunca mais vou atirar num pássaro, exceto gaviões que atacam galinhas, e não vou me gabar desse aqui. Ele era tão manso, confiou em mim, fui muito cruel em matá-lo.

Pensando nisso, Tommy alisou as penas do tordo morto e, cavando uma pequena cova sob o pinheiro, enterrou-o envolto em folhas verdes, deixando-o onde sua companheira poderia cantar por ele, sem mãos rudes para perturbá-lo.

Mais tarde tentaram encontrar a marmota, mas se perderam e vagaram mais fundo na floresta até chegarem a um lugar rochoso onde não podiam avançar. Subiram e rolaram, voltaram e contornaram, olharam o sol e viram que era tarde, mastigaram casca de sassafrás e folhas de amoras como jantar, e ficaram cada vez mais preocupados e cansados enquanto as horas passavam sem fim para o bosque e as rochas. Uma ou duas vezes ouviram o tiro do caçador ao longe, gritaram e tentaram encontrá-lo.

Tommy brigou com Billy por não ter ido com o homem, que conhecia o caminho e provavelmente estava seguro no vale quando o último tiro fraco ecoou. Billy chorou e culpou Tommy por sugerir fugir; ambos sentiam saudades das mães e de suas camas seguras.

O sol se pôs, e eles estavam num lugar sombrio cheio de rochas e árvores devastadas, a meio caminho da montanha. Estavam tão exaustos que mal andavam, querendo se deitar em qualquer lugar para dormir; mas, lembrando a história do urso, tiveram medo, até que Tommy sugeriu subir numa árvore, após fazer uma fogueira ao pé para espantar o urso.

Mas os fósforos ficaram no primeiro acampamento; então decidiram se revezar para dormir e vigiar, já que teriam que passar a noite ali. Billy subiu primeiro, aninhando-se num galho forte da árvore seca, enquanto o valente Tommy, armado com um graveto, patrulhava abaixo. A cada poucos minutos, uma voz trêmula chamava de cima: “Tá vindo alguma coisa?”, e uma voz ansiosa respondia de baixo: “Ainda não. Dorme logo! Quero minha vez.”

Por fim, Billy começou a roncar, e Tommy se sentiu tão solitário que não aguentou; subiu para um galho mais baixo e ficou sentado, cabeceando e tentando vigiar, até que também adormeceu profundamente, e a lua cheia viu os pobres meninos empoleirados como duas corujinhas.

Um grito alto, um barulho acima e um grande tremor e uivos acordaram Tommy tão de repente que ele perdeu o juízo por um momento e não sabia onde estava.

— O urso! O urso! Não deixa ele me pegar! Tommy, Tommy, vem fazer ele soltar! — gritou Billy, enchendo a noite silenciosa com uivos desesperados.

Tommy olhou para cima, esperando ver um grande urso devorando seu amigo; mas o luar mostrou apenas o pobre Billy pendurado num galho, bem acima do chão, preso pelo cinto ao cair. Ele sonhara com ursos e rolara do poleiro; lá estava, chutando e chorando, meio acordado e tão assustado que demorou para Tommy convencê-lo de que estava seguro.

Como tirá-lo dali era a próxima questão. O galho não aguentava Tommy, que tentou subir e soltar Billy. O cinto estava bem preso nas costas, e Billy não conseguia desfazê-lo, nem alcançar o galho com as pernas para se puxar. A única saída parecia desabotoar o cinto e deixar ele cair. Mas Billy tinha medo; o chão era duro, e a queda, alta. Felizmente, cinto e fivela eram fortes; ele ficou pendurado, bem desconfortável, enquanto Tommy quebrava a cabeça para ajudá-lo.

Billy acabara de dizer que seria cortado ao meio se nada fosse feito, e Tommy estava desesperado, quando acharam ouvir um grito ao longe, e ambos responderam até quase rasgarem as gargantas.

— Parece que vejo uma luz se movendo ali embaixo — gritou Billy, do seu gancho, apontando para o vale.

— Estão procurando a gente, mas não vão nos ouvir. Vou correr e gritar mais alto, pra trazer eles aqui — respondeu Tommy, feliz por fazer algo que acabasse com aquela situação horrível.

— Não me deixa! Posso cair e morrer! O urso pode vir! Não vai! Não vai! — choramingou Billy, querendo se soltar, mas com medo.

— Não vou longe, e volto rápido. Você tá seguro aí em cima. Aguenta, que logo te tiramos daí — respondeu Tommy, saindo correndo sem rumo, excitado demais para se preocupar com qualquer dano.

A lua brilhava nas árvores devastadas; mas, ao descer entre os pinheiros verdes, escureceu, e ele tropeçava e caía. Sem ligar para machucados, escalava rochas, pulava troncos caídos, atravessava riachos e descia encostas íngremes, até que, com um salto imprudente, caiu de cabeça num buraco fundo e ficou lá, atordoado pela queda. Era uma velha armadilha de urso, há muito sem uso, e, por sorte, forrada com folhas secas, ou o pobre Tommy teria quebrado os ossos.

Quando voltou a si, estava tão exausto que ficou quieto por um tempo, num torpor, cansado demais para saber ou se importar com qualquer coisa, apenas vagamente consciente de que alguém estava perdido numa árvore ou num poço, e que, no geral, fugir não era tão divertido.

Logo, o som de um tiro o despertou; lembrando do pobre Billy, tentou sair do buraco, pois o luar mostrava onde estava. Mas era fundo demais, e ele estava rígido de cansaço e pela queda. Então gritou, assobiou e se debateu, bem como um pequeno urso preso.

É muito difícil encontrar alguém perdido nessas montanhas, e muitos vagam por horas atrás de ajuda, desnorteados pelos bosques densos, ravinas profundas e precipícios que os cercam. Alguns perderam a vida; e, enquanto Tommy jazia nas folhas, esgotado por suas lutas, pensou nas histórias que ouvira na fazenda e começou a imaginar como seria morrer de fome ali, desejando que Billy pudesse estar com ele para morrerem juntos, como os Bebês no Bosque, ou, melhor ainda, os Escoteiros perdidos nas pradarias na empolgante história “Bill Boomerang, o Caçador Selvagem do Oeste”.

— Acho que a mãe tá preocupada dessa vez, porque nunca fiquei fora a noite toda antes, e nunca mais vou sem permissão. Mas é meio divertido, se me encontrarem. Não tô com medo, e não tá muito frio. Sempre quis dormir ao relento, e agora tô fazendo isso. Queria que o pobre Billy estivesse aqui, seguro, nessa cama boa comigo. Será que ele tá apavorado lá sozinho? Talvez o cinto quebre e ele se machuque caindo. Outro tiro! Aposto que é o cara atrás da gente. Ei! Opa! Tô aqui! Uhu! Viva! Ei! Ei! Ei!

As reflexões de Tommy terminaram numa série de gritos tão altos quanto sua voz aguda permitia, e ele achou que alguém respondeu. Mas devia ser um eco, pois ninguém veio; após outra agitação em sua prisão, o pobre menino se aninhou entre as folhas e dormiu profundamente, porque não havia mais nada a fazer.

E lá estavam eles, os dois jovens caçadores, perdidos à meia-noite na montanha — um pendurado como uma maçã na árvore velha, e o outro dormindo num buraco de urso. Suas mães, desesperadas, choravam e torciam as mãos na fazenda, enquanto todos os homens da vizinhança procuravam os meninos perdidos. O caçador, ao voltar ao hotel, relatou ter encontrado os fujões e tentado mandá-los para casa a tempo; então sabiam onde procurar, e, guiados pelo homem e seu cachorro, toda a tropa subiu a montanha. Era uma noite amena, com a lua brilhando alta e clara; a busca, no início, foi até agradável, com lanternas piscando no bosque como vagalumes, os penhascos solitários parecendo vivos com homens, e vozes ecoando onde normalmente só riachos murmuravam e gaviões gritavam. Mas, com o tempo, sem sinal dos meninos, os homens ficaram ansiosos, temendo que algo grave tivesse acontecido.

— Não volto pra casa sem os meninos — disse o pai de Tommy, parando para descansar após uma escalada difícil pelo bosque devastado. — Ele é um garoto do meu jeito, ágil como um esquilo, esperto como um galinho, e cheio de travessuras como um macaco. Não tem medo de nada, e não me surpreenderia se ele estivesse se divertindo pra valer, tranquilo como um pepino.

— Cala a boca e vem! O cachorro tá latindo ali, pode ter encontrado eles — disse o fazendeiro, correndo para onde o cão latia para algo numa árvore.

Era o pobre Billy, ainda pendurado, meio inconsciente de cansaço e medo.

— É um deles! — exclamou o fazendeiro, enquanto um rapaz alto subia e, desenganchando Billy, o passava como um passarinho para os braços abertos que o esperavam.

— Ele tá bem, só apavorado. Vamos procurar o outro. Aposto que ele foi buscar ajuda e pode estar a meio caminho de casa — disse o caçador.

O chapéu de Tommy estava no chão; mostrando-o ao cachorro, seu dono mandou encontrar o menino. O bom cão farejou e partiu com o focinho no chão, seguindo o rastro em ziguezague de Tommy. O caçador e alguns homens o seguiram, deixando o fazendeiro com os outros para cuidar de Billy.

O cão chegou ao buraco de urso e começou a latir novamente.

— Ele o encontrou! — gritaram os homens, aliviados; correndo, logo viram o cão olhando para um objeto branco num canto do buraco escuro.

Era o rosto de Tommy ao luar, pois o resto estava coberto de folhas. O rostinho redondo parecia muito quieto; por um momento, os homens ficaram parados, temendo que a queda tivesse machucado o menino. Então o caçador pulou dentro e tocou a bochecha. Estava quente, e um ronco suave do nariz achatado fez o homem gritar, aliviado:

— Ele tá bem. Acorda, pequeno; querem você em casa. Caçou o suficiente por hoje?

Enquanto falava, Tommy abriu os olhos, espreguiçou-se e disse “Opa, Billy”, como se estivesse na sua cama em casa. Então o farfalhar das folhas, o luar no rosto e a visão de vários homens olhando para ele o acordaram de vez.

— Matou o urso grande? — perguntou, olhando para o caçador com um sorriso.

— Não; mas peguei um pequeno, e aqui está ele — respondeu o homem, rolando Tommy nas folhas, feliz porque ele não choramingou nem fez alarde.

— Nos perdemos, né? Cadê o Billy? Deixei ele numa árvore como um guaxinim, e ele não quis descer — riu Tommy, chutando as folhas marrons, pronto para se levantar.

Todos riram com ele; puxaram o menino do buraco e voltaram para encontrar o outro perdido, que agora estava sentado, comendo o pão com manteiga que sua mãe mandara para um jantar bem atrasado.

Os homens riram alto enquanto os dois contavam suas tribulações; e, após se refrescarem, o grupo partiu para casa, tocando cornetas de lata e disparando tiros para avisar os outros que as crianças perdidas foram encontradas. Billy ficou quieto, feliz por ser carregado nos ombros largos oferecidos; mas Tommy recusou ser levado e, com uma ajudinha em trechos muito difíceis, desceu a montanha com suas pernas fortes. Ele era o herói da aventura e nunca se cansava de contar como pegou a marmota, cozinhou os peixes, escorregou na rocha grande e dormiu no velho buraco de urso. Mas, em sua cabecinha, decidiu esperar até ser mais velho para tentar ser caçador; e, embora tenha pego várias marmotas naquele verão, nunca mais atirou num passarinho inofensivo.