Círculo

No alto de um penhasco vivia um jovem urubu com sua mãe.

Quando ele ficou grande o bastante para voar, sua mãe o levou bem alto no céu e eles voaram juntos em círculos, observando o chão lá embaixo.

— Quero te mostrar algo bonito — disse ela ao filho.

Eles avistaram um velho órix caminhando cambaleante sob o calor escaldante.

— Veja ali. Aquele órix não vai durar muito.

E de fato, o animal caiu ali mesmo e morreu.

Os dois urubus desceram.

— Isso não é bonito — disse o jovem urubu para sua mãe. — Isso é horrível!

— Eu sei — respondeu a mãe. — A morte é muito difícil, e muito triste. Mas também pode ser bela.

— De jeito nenhum — disse o urubu jovem. — Que nojo.

— Apenas espere — disse ela. — Voltaremos aqui em breve e você vai entender.

Na semana seguinte, eles visitaram novamente o órix morto. Seu esqueleto estava limpo e branco, e pequenas plantinhas começavam a crescer entre os ossos.

Na outra semana, os brotos tinham crescido e florescido. Uma borboleta bebia o néctar das flores, e um piolho-de-cobra descansava à sombra delas.

Na semana seguinte, um casal de tecelões colhia folhas para construir um ninho. Abelhas coletavam o pólen das flores. E uma aranha havia feito sua casa entre os chifres do órix.

E na semana seguinte, viram um jovem órix mordiscando os brotos saborosos.

— E então? — disse a mãe urubu. — Olhe quanta vida um único órix ofereceu. Ele deu um lar à aranha, um ninho aos tecelões, alimentou abelhas e borboletas, abrigou um piolho-de-cobra e ajudou a nova geração de órix a crescer forte.

O jovem urubu sorriu.

Os dois voltaram para o ninho, no alto do penhasco.

— Não deixamos apenas o corpo para trás quando morremos — disse a mãe urubu. — Também deixamos nossas lições, nosso amor e nossas memórias.

— E onde deixamos todas essas coisas? — perguntou o pequeno urubu.

— Deixamos nos nossos filhos, na nossa família e nos nossos amigos.

Você já é o meu pedacinho verde na terra, Pequeno Urubu.

E sempre será.

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