Buscando o Espírito da Primavera

O frio do inverno havia passado.

A primavera estava chegando à aldeia de Nkanyezi.
Logo os aldeões se reuniriam para celebrar a nova estação. Nkanyezi esperava pelo festival da primavera mais do que qualquer outro dia do ano.

Numa manhã quente, Nkanyezi ouviu dois anciãos da aldeia conversando sobre o festival.

— O povo de Ndlovu perdeu o espírito da celebração — suspirou um deles.

— Como podemos ter um festival da primavera numa aldeia que esqueceu como se comemora? — perguntou o outro.

Nkanyezi ficou preocupada.

— Como o sol vai voltar a brilhar se não cantarmos para acordá-lo de seu sono de inverno? — perguntou-se ela.

Nkanyezi pensou por muito tempo.

— Eu preciso encontrar o que perdemos — decidiu.

— Preciso partir em busca das coisas que trarão de volta o espírito da celebração ao meu povo.

Os anciãos deram sua bênção para a jornada. Deram-lhe uma sacola para carregar os itens que encontrasse.

Nkanyezi sentia medo, mas acreditava que teria sucesso.

Caminhou o dia inteiro. Subiu uma colina e desceu até um vale. Navegou pelo grande rio e escalou entre rochas pontiagudas. Marchou pelas planícies até alcançar a sombra das montanhas vermelhas.

Quando a noite se aproximava, Nkanyezi chegou a uma aldeia de padrões e cores como jamais havia visto. Contou aos anciãos da aldeia sobre sua jornada para trazer de volta o espírito da celebração ao seu povo.

A mãe daquela tribo deu a Nkanyezi um presente.

— Com amor, te damos esta tinta para restaurar a cor de uma aldeia que ficou sem brilho — disse ela.

Nkanyezi agradeceu aos anciãos e colocou a tinta em sua sacola.

Na manhã seguinte, seguiu seu caminho mais uma vez, animada com o presente colorido.

Nkanyezi caminhou o dia inteiro por uma imensa floresta de árvores gigantes. Quando o céu ficou escuro demais para enxergar, ouviu o som de tambores. Correu na direção da batida, sentindo o espírito da dança chegando até seus pés cansados.

Nkanyezi se viu na aldeia dos Bhubezi. As pessoas estavam sentadas ao redor de uma fogueira, tocando tambores e cantando. Ela nunca havia ouvido música tão maravilhosa.

Contou aos anciãos da aldeia sobre sua jornada para trazer de volta o espírito da celebração ao seu povo. Os Bhubezi a convidaram para descansar e passar a noite ali.

Pela manhã, o chefe chamou Nkanyezi.

— Minha filha — disse ele —, aqui está um tambor especial. Ele toca uma música diferente toda vez que você o bate.

Nkanyezi agradeceu aos anciãos e colocou o tambor em sua sacola. Seguiu viagem novamente, encantada com aquele presente de música e dança.

No terceiro dia da jornada, enquanto passava por um campo cheio de vacas gordas, seu nariz começou a formigar.
Um aroma fez cócegas em seu paladar e sua boca se encheu d’água. Seguiu o cheiro até chegar a uma aldeia onde as pessoas estavam em volta de panelas fumegantes de ensopado.

Aquela tribo era famosa por seus banquetes, e Nkanyezi nunca havia provado sabores tão deliciosos. Depois de se fartar, contou aos anciãos da aldeia sobre sua jornada para trazer de volta o espírito da celebração ao seu povo.

No dia seguinte, o conselho de cozinheiros lhe deu uma mistura secreta de especiarias.

— Nossa filha — disseram — com essas especiarias, barrigas felizes estão garantidas! Te damos o presente da boa comida.

Nkanyezi agradeceu aos anciãos e colocou as especiarias em sua sacola.

Ela sabia que agora tinha tudo o que precisava.

Com nova energia, começou a longa jornada de volta à aldeia de Ndlovu.

Ao chegar em casa, os aldeões se reuniram ao seu redor para ouvir suas aventuras. Ela contou tudo o que havia visto, ouvido e saboreado. Então abriu sua sacola e compartilhou os presentes que recebera. O povo se alegrou ao receber aqueles tesouros.

Por meio da generosidade de outros e da coragem de Nkanyezi, os aldeões redescobriram a cor, a música e a dança em suas vidas. E assim, o espírito da celebração foi restaurado à aldeia de Ndlovu.

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